Influência nazista está por trás da violência em escolas

O recente episódio na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, não é um caso isolado.

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Por José Osmando de Araújo 

Na última segunda-feira de Março, 27, mais um caso de violência dentro de escolas colocou outra vez em choque famílias de norte a sul do país, e repôs na mesa de debate a questão da segurança dentro dos estabelecimentos escolares. Mais do que isso, esse recente episódio na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, detona a pergunta: por que jovens que vão à escola para estudar, estão, cada vez mais, usando este espaço para a prática de deplorável violência?

Neste caso atual, um adolescente de 13 anos, quase uma criança ainda, portanto uma arma branca, matou uma exemplar professora de 71 anos de idade e de décadas dedicada ao ensino, e deixou outras cinco pessoas feridas, só interrompendo sua ação criminosa depois de ser imobilizado e desarmado por colegas da professora morta.

NÃO É UM CASO ISOLADO 

Não estamos tratando de um caso isolado. O que vimos presenciando no Brasil é uma escalada de intolerância, ódio e violência no ambiente escolar, fugindo do controle de professores e dirigentes, conforme tem mostrado a mídia e também relatórios produzidos por sindicatos e organismos ligados à Educação. 

O mais recente estudo sobre a questão, apresentado por Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, mostra que a partir do início dos anos 2000 até dezembro de 2022, foram 16 episódios similares ao da escola paulista. Ao todo, os atos violentos culminaram na morte de 35 pessoas e deixaram mais de 72 feridos decorrentes dos atos de violência extrema.

E algo chama muito a atenção nesse estudo agora conhecido, a partir do título do trabalho, que foi batizado de “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental”.

Nele há um indicativo importante: quatro desses ataques aconteceram apenas no segundo semestre de 2022, período severamente influenciado pela violência política, em ano de eleição conturbada.

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ATAQUES FREQUENTES 

Em novembro de 2022, três pessoas morreram e 11 ficaram feridas em dois ataques a duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo. Os ataques aconteceram na Escola Darwin, da rede particular, e na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti. O episódio é considerado um dos ataques mais violentos.

Em Vitória, no Espirito Santo, um ex-aluno, de 18 anos, invadiu a Escola Eber Louzada com facas, bombas caseiras, três bestas, flechas e coquetel molotov, em fevereiro do ano passado. O ataque deixou uma pessoa ferida.

Em fevereiro deste ano, um adolescente, de 17 anos, foi apreendido após arremessar uma bomba caseira pela janela em uma escola. A bomba chegou a explodir no vaso sanitário, mas não houve feridos. O garoto estava com uma machadinha e trajava roupas pretas, além de exibir uma suástica no braço. O menino foi ex-aluno da unidade atacada, mas havia deixado a instituição há alguns anos.

Na cidade baiana de Barreiras, um aluno de 15 anos utilizando uma faca e um revólver do pai, um subtenente aposentado, invadiu a escola cívico-militar Eurides Sant’anna. O rapaz chegou a anunciar o atentado nas redes sociais, que culminou na morte de uma jovem cadeirante.

Em Morro do Chapéu, Bahia, um aluno de 13 anos ateou fogo na Escola Municipal Yeda Barradas Carneiro, onde estudava. A Polícia Civil baiana afirmou que o estudante entrou na escola e atirou explosivos caseiros do tipo coquetel molotov, que causaram as chamas. Não houve mortes.

Em outubro do ano passado, um aluno de 15 anos atirou em três estudantes de uma escola pública em Sobral, Ceará. Um deles morreu. O autor do ataque disse à polícia que sofria bullying e usou uma arma registrada em nome de um CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador) que era seu familiar.

CULTURA DA VIOLÊNCIA 

Em Mesquita, Rio de Janeiro, também no ano passado, um aluno levou um galão de gasolina para a escola, jogou o produto na entrada da sala e ateou fogo com um isqueiro. O jovem ainda fechou a porta da sala, mas não houve feridos.

Três alunos da Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, foram esfaqueados em 6 de maio do ano passado, por um colega dentro da unidade de ensino. Além das vitimas com ferimentos leves, o agressor também se machucou nas mãos. Ele era um adolescente 14 anos que atacou duas colegas de classe pelas costas e um outro aluno que tentou defender as meninas.

EXTREMISMO

Cada vez mais vai ficando claro: o uso inapropriado das redes sociais da internet, com discurso de ódio, pregação da intolerância e da violência entre jovens, tem enorme peso nas práticas criminosas que têm crescido dentro das escolas. Conforme estudos da Unicamp, um terço dos ataques a escolas registrados de 2019 para cá, teve referências nazistas nas postagens em redes sociais, nas roupas e nos gestos do jovens transgressões.

Isso prova que o extremismo de direita, que muitos jovens infelizmente têm abraçado, só está trazendo desgraças

Famílias e governantes precisam agir para barrar essa onda miserável, devolvendo à escola o seu papel essencial de preparar o futuro sadio dos jovens.

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