O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), discursou neste domingo, 21 de maio, no encontro dos países mais industrializados do mundo, o G7, frente a frente com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, ele condenou a violação da integração territorial do país, repudiando o "uso da força como meio de resolver disputas".
Zelensky chegou a solicitar uma reunião bilateral com Lula, porém o encontro não ocorrerá devido a 'incompatibilidade de agendas'. Questionado se ficou decepcionado, o presidente da Ucrânia foi irônico. "Acho que ele é que ficou desapontado", pontuou o presidente da Ucrânia sobre Lula após tentativa de reunião ser descartada.
No discurso ao G7, o brasileiro sinalizou que está alinhado com a Carta das Nações Unidas e que o Brasil "repudia veementemente o uso da força como meio de resolver disputas". "Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia". O encontro tinha como tema: "Rumo a um Mundo Pacífico, Estável e Próspero", na ocasião, Lula afirmou que "é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. "Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações".
Lula também voltou a defender uma reforma no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
"O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime. Mesmo sem conseguir prevenir ou resolver conflitos através do órgão, alguns países insistem em ampliar a agenda do Conselho cada vez mais, trazendo novos temas que deveriam ser tratados em outros espaços do sistema ONU".
Na mesa da sessão com as demais nações, Lula ficou entre o presidente estadunidense Joe Biden e o premiê canadense Justin Trudeau. Na sua frente estava Volodymyr Zelensky, ladeado pelo indiano Narendra Modi e o sul-coreado Yoon Suk-yeol. No centro, o anfitrião do encontro, o japonês Fumio Kishida.
Confira o discurso de Lula na íntegra:
"Hiroshima é o cenário propício para uma reflexão sobre as catastróficas consequências de todos os tipos de conflito. Essa reflexão é urgente e necessária. Hoje, o risco de uma guerra nuclear está no nível mais alto desde o auge da Guerra Fria.
Em 1945, a ONU foi fundada para evitar uma nova Guerra Mundial. Mas os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam.
O mundo já não é o mesmo. Guerras nos moldes tradicionais continuam eclodindo, e vemos retrocessos preocupantes no regime de não-proliferação nuclear, que necessariamente terá que incluir a dimensão do desarmamento.
As armas nucleares não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio em massa que nega nossa humanidade e ameaça a continuidade da vida na Terra.
Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso.
Foi por essa razão que o Brasil se engajou ativamente nas negociações do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, que esperamos poder ratificar em breve.
Em linha com a Carta das Nações Unidas, repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares.
Tenho repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações.
Também não podemos perder de vista que os desafios à paz e à segurança que atualmente afligem o mundo vão muito além da Europa.
Israelenses e palestinos, armênios e azéris, cossovares e sérvios precisam de paz. Yemenitas, sírios, líbios e sudaneses, todos merecem viver em paz. Esses conflitos deveriam receber o mesmo grau de mobilização internacional.
No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pela tragédia. O flagelo a que está submetido o povo haitiano é consequência de décadas de indiferença quanto às reais necessidades do país. Há anos o Brasil vem dizendo que o problema do Haiti não é só de segurança, mas, sobretudo, de desenvolvimento.
O hiato entre esses desafios e a governança global que temos continua crescendo. A falta de reforma do Conselho de Segurança é o componente incontornável do problema.
O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime.
Mesmo sem conseguir prevenir ou resolver conflitos através do órgão, alguns países insistem em ampliar a agenda do Conselho cada vez mais, trazendo novos temas que deveriam ser tratados em outros espaços do sistema ONU.
O resultado é que hoje temos um Conselho que não dá conta nem dos problemas antigos, nem dos atuais, muito menos dos futuros.
O Brasil vive em paz com seus vizinhos há mais de 150 anos. Fizemos da América Latina uma região sem armas nucleares. Também nos orgulhamos de ter construído, junto com vizinhos africanos, uma zona de paz e não proliferação nuclear no Atlântico Sul.
Testemunhamos a emergência de uma ordem multipolar que, se for bem recebida e cultivada, pode beneficiar a todos.
A multipolaridade que o Brasil almeja é baseada na primazia do direito internacional e na promoção do multilateralismo.
Reeditar a Guerra Fria seria uma insensatez.