Após uma eleição histórica marcada pela polarização, o Partido dos Trabalhadores (PT) tomou medidas para compreender o intenso bombardeio que tem enfrentado da ultradireita nos últimos anos e começou a preparar seus membros para um contra-ataque na esfera digital. O objetivo é lidar com o volume de ataques, desinformação e teorias da conspiração direcionados à agremiação.
Com ênfase nas regiões Sul e Sudeste, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve melhor desempenho eleitoral, o PT tem promovido seminários com o intuito de explicar aos militantes a origem das correntes de notícias falsas que miram a esquerda, identificar os principais propagadores bolsonaristas desse conteúdo e ensinar aos filiados como refutar tais narrativas. Os materiais utilizados são provenientes de estudos realizados pelos pesquisadores Fernanda Sarkis e Marcus Nogueira.
Durante a apresentação, os pesquisadores traçam uma linha do tempo das principais correntes de desinformação direcionadas ao PT, destacando os comunicadores ligados ao bolsonarismo e alguns financiadores de think tanks ultraconservadores. Nomes como Eduardo Bolsonaro, Damares Alves, Bia Kicis, Nikolas Ferreira, Ricardo Salles, Gustavo Gayer e Sergio Moro são apontados como expoentes da "bancada da nova direita", que contribuem para amplificar os ataques.
Além disso, Fernanda Sarkis e Nogueira entregaram um relatório à direção do partido, auxiliando-os a compreender a corrente de desinformação bolsonarista contra a esquerda.
Temas de ataque mapeados
De acordo com o estudo, os detratores geralmente tentam associar seus oponentes a temas como corrupção, ideologia de gênero, aborto, drogas, comunismo, impunidade (sob o discurso de que "direitos humanos é defesa de bandido"), perseguição religiosa, violência, doutrinação nas escolas, regulação da mídia, invasão de propriedade e destruição da família.
Segundo os pesquisadores, essa cartilha foi amplamente utilizada pelos bolsonaristas nas redes sociais durante a campanha presidencial de 2022. Uma das teses que mais mobilizou os evangélicos, por exemplo, foi a ideia de que o PT fecharia templos e perseguiria líderes religiosos caso retornasse ao poder, embora isso nunca tenha ocorrido durante os 13 anos.
Os doze temas abordam uma ampla gama de teorias da conspiração e fatos que fornecem munição para as publicações dos bolsonaristas na internet. A ideia do PT é utilizar o relatório para construir uma contranarrativa e se proteger nas redes sociais, além de identificar os articuladores das ideias da direita.
"Os bolsonaristas têm a narrativa deles. A gente tem que ter a nossa, e dar sentido para a militância se engajar digitalmente nesse contra-ataque", diz Jilmar Tatto, deputado federal e secretário de comunicação do partido.
Críticas à comunicação
Segundo aliados de Lula, o problema é que o presidente se recusa a "a fazer essas coisas que o Bolsonaro fazia", como transmissões ao vivo em ambientes informais e improvisados, que são mais adequadas à linguagem jovem. Lula começou a entrar nesse jogo de forma tímida. Na última segunda-feira, fez sua segunda transmissão ao vivo no Palácio da Alvorada, adotando um formato similar aos populares "mesacasts".
Enquanto os comunicadores de esquerda defendem a necessidade de rejuvenescer a comunicação e abandonar um pouco as ferramentas tradicionais para enfrentar o bolsonarismo, uma ala do PT é contrária à adoção do "estilo André Janones", em referência ao deputado federal que se tornou um fenômeno de audiência e foi uma arma secreta de Lula na última campanha.