Por Victor Melo e Matheus Oliveira
Populares tentaram invadir e depredar na noite desta terça-feira (22), a residência da família do bebê Wesley Carvalho Ferreira, morto durante um ritual realizado pelos próprios familiares. O Delegado Antônio Barbosa, da Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), esteve na manhã de hoje (23) na casa, localizada na Vila Joana Darc, zona Leste de Teresina.
A reportagem do Ronda Nacional apurou ainda que outras crianças e adolescentes estavam na residência e ficaram sozinhas após a prisão da mãe, pai e avós paternos do bebê no início da semana. Diante da iminente invasão e depredação da casa pela população, uma vizinha acolheu os menores.
“Queria invadir, tocar fogo e quebrar a casa com as crianças dentro. Isso foi ontem a noite e o povo tudo revoltado. E fui lá para tirar as crianças debaixo. Gente, não pode fazer isso, porque tem criança pequena e acho errado. Quem tem que pagar isso é eles, não os filhos dele. Tem um meninozinho que parece que é até deficiente. Lá dentro tinha uns 7 ou 8. Se os outros que matou, quem tem quer pagar são eles. Passamos ele para outra casa para não ser linchado ou a casa apedrejada com eles dentro. Chamei a polícia. Mas eles estão na outra casa aqui da vizinha”, disse Júlio Ramalho, vizinho que ajudou no recolhimento das crianças.
Alenilda, uma outra vizinha da família, informou os conhece há muitos anos e não imaginava toda a situação.
“Eles estavam com muito medo, assombrados porque as pessoas queriam invadir para fazer justiça e eles estavam assombrados. Uma vizinha ajudou eles e levou para casa dela e está lá com eles. Teve uma movimentação da polícia aqui, de noite e hoje de manhã muito cedo. Ela é apenas vizinha. Como eles estavam com muito medo e são crianças, ela levou a casa dela. Eu fiquei revoltada. Porque conheço eles há 19 anos e era uma pessoa que não tinha nada do que falar dele. Os filhos crescerem e hoje são pedreiros e é uma surpresa pra gente. ‘Profeta’ na família não tem não. É uma pessoa conduzido eles. Esse menino que estão acusado é uma criança ainda”, pontuou a vizinha.
História desconexa
Em entrevista à reportagem, a conselheira Socorro Arraes informou que desde quando a equipe foi informada sobre esse caso percebia que a história estava desconexa. “Quando nós ficamos sabendo do caso foi por uma pessoa da rede e nós pedimos que a família da mãe do bebê procurasse a polícia porque se tratava naquele momento de um suposto sequestro, mas a gente percebia que a história estava tirada do contexto, a conta não fechava. Fomos até o povoado conversamos com as pessoas, voltamos na casa e encontramos a mãe do bebê, ela contou a mesma história, que tinha sido um sequestro, mas eu disse que precisávamos deixar uma notificação para que ela fosse ouvida na sede do Conselho Tutelar”, informou.
Outros menores
Ainda segundo Socorro Arraes, no local haviam outras crianças participando do ritual feito pelo suposto profeta, que seria um adolescente da família de apenas 12 anos. “Lá também tinha outras crianças, a vizinha nos contou que ouvia muito choro de criança próximo ao local. Nesse dia que o Wesley veio a óbito, ela disse que ele começou a chorar e ela ficou acalentando ele no braço. Em seguida, ela pediu para a sogra fazer um mingau e ela disse que não podia, só quando terminasse o ritual para quebrar a magia negra que tinham feito e jogado contra eles. Ela disse que quando o bebê desfaleceu ela entregou a criança para o pai e disse ‘pelo amor de Deus leve para o médico’. Depois disso saíram o pai, o que se intitula profeta e o avô, ela disse que eles não demoraram e voltaram logo em seguida. Aí ela perguntou pela criança e o pai falou: ‘Nós jogamos na caeira’. Ou seja, a criança deve ter desmaiado porque estava com fome e possivelmente foi jogado na caeira ainda vivo”, pontuou.