José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Queda na vacinação põe no radar o retorno de doenças já erradicadas

Retorno de doenças erradicadas ameaça o Brasil devido à queda na vacinação

O Senado Federal vai realizar uma sessão especial em comemoração ao Dia Nacional da Imunização, celebrado em 9 de Junho, uma proposta apresentada pelo senador piauiense Marcelo Castro (MDB), subscrita por diversos outros senadores de variados partidos. 

O gesto dos senadores tem o objetivo de chamar a atenção do país e despertar a responsabilidade das famílias e entes públicos para um quadro bastante preocupante quanto à visível queda da vacinação entre os brasileiros, uma realidade que afeta o Brasil na sua condição histórica de líder exemplar na imunização de crianças contra variados tipos de doenças. 

QUEDA NA TAXA DE VACINAÇÃO

Desde o advento da Covid-19, quando a vacina se tornou rigorosamente essencial para conter a epidemia, as taxas de vacinação em geral tiveram quedas acentuadas. A maneira pouco responsável de atuação dos governantes da época, sobretudo no auge da pandemia, entre 2020 e 2021, de desacreditar e desestimular o uso da vacina, terminou por atingir duramente esse combate específico, além de resultar em contaminar a cultura de imunização existente entre as famílias brasileiras, relativamente a outros tipos de doenças.

BRASIL SEMPRE FOI EXEMPLO

A imunização por meio das vacinas é um dos maiores avanços da humanidade no combate às doenças contagiosas. E o Brasil sempre se postou numa liderança exemplar, inovando na aplicação de vacinas de modo coletivo, tanto que vem do ano de 1973 (50 anos, em 18 de Setembro de 1973)  o Programa Nacional de Imunização (PNI), que é o mais antigo das Américas, com reconhecimento nacional e internacional.

Com a deplorável exceção do governo passado, todos os governantes brasileiros, até 2018, estiveram atentos e atuantes no cumprimento das metas do Programa Nacional de Imunização. Graças a esse procedimento responsável, o Brasil alcançou a erradicação da varíola e o controle absoluto sobre a poliomielite (paralisia infantil) e da síndrome da rubéola. O PNI brasileiro conta com vacinas para mais de 30 doenças, disponibilizando cerca de 300 milhões de doses anualmente, contando com algo em torno de 38 mil salas de vacinação.

ALERTA

Mesmo levando em conta, conforme pesquisa do IBOPE Inteligência realizada em junho do ano passado, de que 90% da população reconhece a total importância das vacinas, três em cada dez crianças brasileiras não foram imunizadas contra doenças potencialmente fatais nos últimos quatro anos. Segundo alerta do Fundo das Nações para a Infância (Unicef), a imunização contra sarampo, caxumba e rubéola, cuja taxa em 2019 era de 93,1%, caiu para 71,5% no ano de 2021.

No mesmo tom do alerta da Unicef, o Instituto Butantan, o respeitado organismo de produção de vacinas brasileiras, conjuntamente com a Fiocruz, reforça a preocupação contra o retorno, que já se verifica, de doenças imunizáveis, chamando a atenção para a urgente necessidade de volta integral dos esforços para aplicação, sobretudo para a famosa tríplice viral, que combate o sarampo, a rubéola e a caxumba, e a vacina combinada difteria-tétano-coqueluche, moléstias que têm mostrando sinais de retorno.

DADOS PREOCUPANTES

É assustador verificar que a campanha contra o sarampo em 2022 atingiu apenas 35% das crianças de 6 meses a 5 anos incompletos e imunizou somente 22% dos profissionais de saúde que devem se submeter à imunização, conforme informação do LocalizaSus. Esses números preocupantes ocorrem no momento em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que nos primeiros meses do ano passado verificou-se um aumento de 79% nos casos de sarampo no mundo. 

Em 2016, o Brasil havia recebido da Organização Mundial de Saúde o certificado de erradicação do sarampo, contudo em 2018 o país voltou a registrar a circulação do vírus. Só até a 12ª semana epidemiológica de 2022, o Ministério da Saúde havia anotado 8.448 casos de retorno da doença. Em 2021, a vacinação infantil em território brasileiro chegou ao seu pior nível em três décadas, com as taxas de aplicação retornando aos patamares de 1987. Com isso, doenças já consideradas erradicadas estão voltando a fazer vítimas.

Estamos, assim, diante de uma situação bastante preocupante, que requer o esforço comum de governantes, instituições e coletividade, para fazer regressar à cultura de imunização que o Brasil havia adotado, e que recebeu duro golpe do governo anterior, por sua política de negacionismo às vacinas e de descrédito à ciência.

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