E há mais um ingrediente fundamental nessa história. Muitas das doenças infecciosas são autolimitadas.
Em outras palavras, a pessoa contrai o vírus, a bactéria ou o fungo, desenvolve os sintomas e, após alguns dias, o quadro melhora ou piora de vez. O final dessa história é a cura ou a morte.
Esse é o rito que sucede na maioria das vezes após o resfriado, a gripe, o ebola… Mas a covid-19 mostrou ser muito mais complexa e há muitas pessoas que seguem apresentando incômodos meses após a infecção inicial.
Para piorar, a diversidade desses desdobramentos é algo que intriga médicos e cientistas: um artigo da Universidade College London, no Reino Unido, publicado em julho de 2021, chegou a listar 200 possíveis sintomas diferentes da covid longa.
Alguns afetam o cérebro e podem estar por trás de problemas de memória e raciocínio. Outros prejudicam o ciclo menstrual das mulheres ou a capacidade de ereção dos homens. Há ainda aqueles que causam palpitações no coração ou deixam a visão borrada.
"Esses são fenômenos que não pensávamos que fossem acontecer e eram absolutamente desconhecidos", admite Granato.
"Ao longo desse tempo, nós aprendemos a ficar de olho nos sintomas diferentes e acionar colegas especialistas naquilo, como cardiologistas e neurologistas", complementa a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
"Em muitos casos, essa abordagem multidisciplinar é necessária para acompanhar os pacientes com covid longa, algo que não era esperado originalmente", conclui a especialista, que também integra a Sociedade Brasileira de Infectologia.