O agronegócio vive um momento especial no Piauí, que mais uma vez registrou safra recorde de 6 milhões de toneladas de grãos. A informação é do engenheiro agrônomo, doutor Rafael Maschio, diretor executivo da Aprosoja, que apontou os investimentos, ampliação de 10% da área plantada e o bom regime das chuvas para esse número alto de produção, que aumentou em 20%.
"Na safra 2020/2021, a safra chegou a 5 milhões de toneladas e no período 2021/2022, passou para 6 milhões de toneladas de grãos. Foi uma excelente produtividade, uma das melhores médias do Brasil", diz Rafael, afirmando que só na soja, o Piauí superou a marca de 3.500 kg por hectare e o milho ficou entre 7,5 toneladas por hectare.
Na apresentação da evolução e o cenário atual do agronegócio no estado, o presidente da Aprosoja, empresário Alzir Neto, diz que ano após ano, o Piauí vem batendo recordes e declarou que o momento é para analisar os números e entender a importância do setor produtivo para o País e verificar os acertos e erros.
Agronegócio melhora renda per capita e IDH dos municípios
Alzir Neto chama a atenção que o agronegócio traz desenvolvimento econômico para o Estado à medida em que tem forte peso na balança comercial, mas o setor faz muito bem à população dos municípios.
"Os municípios onde o agro é forte houve crescimento na parte social, com melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a renda per capita é melhor, os índices de saneamento tem melhorado. Então, é momento de fazer uma análise geral da contribuição de toda cadeia produtiva do setor primário para o Piauí, inclusive, em termos de arrecadação de impostos", diz, destacando ainda que a riqueza gerada no agronegócio fica no estado, cria emprego, renda e faz circular os bens.
Segundo ele, diretamente, o setor primário não gera a mesma quantidade de emprego que a indústria e o setor de serviço, mas o impacto que gera de forma indireta é muito significativo.
Segundo Alzir Neto, no ano passado, houve incremento de quase R$ 100 milhões de ICMS só do agronegócio. O ICMS em 2020 era de R$ 400 milhões e saltou em 2021 para R$ 500 milhões.
Agronegócio sustentável
De acordo com Alzir Neto, o agronegócio praticado no Brasil é sustentável. O Piauí, por exemplo, tem 25 milhões de hectares e a produção do agronegócio está concentrada em 1 milhão de hectares. "A maior parte das áreas de preservação do meio ambiente estão dentro das propriedades rurais através de reservas legais ou das APPs", diz, enfatizando que o Brasil é exemplo de preservação.
"Temos 2/3 de nossa vegetação nativa intacta", diz, enfatizando que a reserva legal, ou seja, a área de proteção ambiental é 30%. "Se tem 100 hectares, 30 obrigatoriamente são destinadas à reserva legal, devem ser conservadas, mas se acontecer qualquer coisa com essa área é nossa responsabilidade", afirma, explicando ainda que a não observância desse parâmetro trava todo sistema financeiro, pois os bancos públicos e privados não financiam quem não tem a regularidade ambiental.
"O meio ambiente e agricultura andam lado a lado. É consonante, nós convivemos com o meio ambiente, preservamos, sabemos e entendemos que trabalhar com a agricultura é copiar a própria natureza", diz.
Produtor de soja, milho, arroz, feijão, Alzir Neto tem projeto para cultivar algodão e atua ainda com pecuária de corte e diz que uma das pautas que mais defende é a integração entre lavoura e pecuária. "Essa integração nos permite outra atividade para o período da entressafra, estimula a produzir mais com menos e isso é conceito de sustentabilidade", declara.
Safra mais cara da história
Por conta do contexto mundial, com a guerra entre Ucrânia e Rússia, Alzir Neto diz que este conflito impactou no aumento do preço dos fertilizantes. "É a safra mais cara da história, o preço dos fertilizantes quadruplicou", disse, enfatizando que o aumento ficou em média 45% e citou ainda outros fatores como o valor do diesel e a inflação alta.
Segundo ele, as commodities agrícolas estão meio instáveis, algumas com redução de preço de forma que o cenário é complicado para o produtor e informa que ano passado pagava uma média de R$ 350 por uma quantidade de fertilizante e este ano, pela mesma quantidade chegou a pagar R$ 1.300,00. "Para o agronegócio no Piauí, o adubo representa quase 50% do custeio", diz, argumentando que a conta é muito alta e o cenário é apertado.
Alzir diz que fato similar ocorreu em 2011, quando o preço das commodities estava em baixa, os insumos estavam em alta. "Produziu bem, mas não fechou a conta", lembra, afirmando que provavelmente, com este cenário atual, o Brasil pode ter uma diminuição da safra.
"Há 2 ou 3 anos, a gente saiu de um custeio por hectare de produção de soja no valor médio de R$ 3.600 a R$ 4 mil e este ano vamos romper a barreira de R$ 6 mil por hectare de soja", explica e defende a criação de mecanismos para tirar o País dessa dependência externa.