Entre 7h30, quando acorda, e 22h, quando vai deitar, Monique Medeiros da Costa e Silva mantém hábitos de leitura — foram 23 obras, além da Bíblia, em 85 dias — e também de escrita. Formada em Letras-Português/Literatura, a professora lecionou durante 11 anos em uma escola pública na Zona Oeste do Rio e, na cela de oito metros quadrados do Instituto Penal Ismael Silveiro, em Niterói, onde está presa preventivamente pela morte do filho, Henry Borel de Almeida, ela trabalha em sua estratégia de defesa, enviado mensagens a mãe, ao pai e ao irmão e ainda está elaborando um livro sobre seu relacionamento com o médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, a quem acusa do crime.
— Minha ideia é publicar um livro justamente contando minha história, o que vivi durante todo o relacionamento abusivo e tóxico, com agressões físicas e psicológicas. Quero que esse trabalho ajude mulheres que vivem nessa situação e evite que outras tantas passem por isso. Minha meta, ao sair da cadeia, é dar palestras e focar nesse tema — explicou Monique, durante entrevista exclusiva ao EXTRA, na manhã desta segunda-feira.
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Monique falou sobre os dias no cárcere, atacou Jairinho e ainda garantiu que irá provar sua inocência na Justiça. O casal é réu pelos crimes de tortura e homicídio triplamente qualificado contra Henry, fraude processual e coação no curso do processo:
— Tenho certeza que cumpri com todas as minhas obrigações como mãe, cuidando e zelando do meu filho da melhor forma que pude. Sinto falta de suas gargalhadas, de nossas brincadeiras com Lego, de vê-lo acordar. Hoje, quando olho para trás, meu único arrependimento é ter deixado entrar na minha casa uma pessoa que eu não pude prever que faria algum mal a ele.
Na resposta à acusação do Ministério Público apresentada por Jairinho, o advogado Braz Sant’Anna disse que as cartas escritas pela professora, em que ela narrava o relacionamento abusivo, eram manuscritos “permeadas de falsas lamúrias e de arrependimentos, todas amplamente divulgadas pela mídia, permitiram antever que a inverossímil versão por ela própria engendrada, no limiar das investigações, não seria mais a mesma”.
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“O fato é que nem mesmo Leniel Borel, seu companheiro de vários anos e pai da vítima, se convenceu da sinceridade de seus sentimentos e da novel versão defensiva, tendo se insurgido publicamente sobre as suas manifestações. A rigor, nem era preciso o convívio de tantos anos para conhecer a verdadeira face de Monique, mulher jovem, bonita, aspirante do sucesso, da ascensão social, capaz de tudo para alcançar o seu objetivo”, diz a defesa de Jairinho.
“A selfie em que ela apareceu sorridente e de pernas para cima, na antessala do gabinete da autoridade policial, onde prestaria depoimento, dias antes do decreto de sua prisão temporária, foi suficiente o bastante para revelar a frieza e a indiferença com a morte de seu filho”.