Depoimentos de testemunhas da morte de duas crianças em Senador Camará, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na sexta-feira (24), foram revelados durante a audiência de custódia do principal suspeito, David de Souza Miranda.
As vítimas eram Luísa Fernanda, de 5 anos, filha de David, e Ana Beatriz, de 4 anos, sobrinha dele. Elas estavam na companhia de Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque, a ex-cunhada de David e mãe de Ana Beatriz. Natasha foi amarrada e submetida a atos de tortura pelo suspeito, e encontra-se hospitalizada em estado grave.
Testemunhas relataram que David estava extremamente abalado devido à denúncia à polícia feita por sua ex-companheira, que é mãe de Luísa Fernanda, acusando-o de crimes cometidos contra ela. Uma das declarações alarmantes que surgiram foi a ameaça de que ele pretendia causar graves ferimentos à ex-cunhada, utilizando uma marreta, e até mesmo tirar a vida de sua própria filha, como uma espécie de retaliação para "fazer a ex-mulher sentir o que é perder um filho".
As testemunhas relataram ainda barulhos de marretada e o som de gritos: "Pai, não faz isso, não, pai, pelo amor de Deus, pai!". Logo depois, a casa pegou fogo e David foi embora. A polícia diz que os depoimentos revelam que, em telefonemas, David disse que matou as três e que ligou para a ex-companheira, Nayla, e disse que ela havia "provocado uma tragédia na família".
Natasha havia levado Luísa para David ver por causa de uma medida protetiva que impedia a aproximação dele de Nayla.
Moradores da região também informaram à polícia que, após conseguirem controlar as chamas, adentraram na residência e se depararam com uma das crianças totalmente inconsciente, com aparência de óbito. A outra menina foi localizada com os pés presos debaixo de uma cama box, apresentando queimaduras no corpo, porém ainda com sinais vitais. Ambas foram encaminhadas a hospitais, mas lamentavelmente não resistiram e vieram a falecer.
Natasha também recebeu socorro e encontra-se internada em estado grave. Os exames de necropsia realizados em Luísa e Ana Beatriz apontam que ambas faleceram devido a traumatismo craniano. David foi detido na Tijuca, na Zona Oeste do Rio, após envolver-se em um acidente automobilístico durante sua tentativa de fuga.
Prisão preventiva
Na segunda-feira (25), durante a audiência de custódia, o sistema judiciário do Rio de Janeiro determinou que a prisão de David de Souza Miranda fosse transformada em prisão preventiva, considerando sua periculosidade e o impacto emocional provocado pelo caso.
"A frieza e desequilíbrio emocional do custodiado, apontados pela própria dinâmica dos fatos, é fator que pode contribuir para que as testemunhas se sintam constrangidas para prestar depoimento sabendo que o autor de um crime de tamanha gravidade estará solto no mesmo ambiente", escreveu a juíza Rachel Assad em trecho da decisão que determinou a prisão preventiva de David.