Após série de contradições, casal Bolsonaro adota estratégia contrária a de Cid

Após série de contradições, casal Bolsonaro adota estratégia contrária a de Cid

Michelle e Jair Bolsonaro | Reprodução/Estadão
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Em um desdobramento surpreendente das investigações envolvendo a destinação das joias recebidas em missões no exterior, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) optaram por permanecer em silêncio durante o interrogatório conduzido pela Polícia Federal (PF) na capital federal, na manhã desta quinta-feira (31/8). Esta decisão contraria a estratégia adotada pelo ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, figura central na investigação, que forneceu informações durante mais de dez horas em seu depoimento à PF, realizado no mesmo dia.

O tenente-coronel Cid foi ouvido pela terceira vez em menos de uma semana, após depor por mais de 16 horas nas investigações relacionadas a um esquema de falsificação de cartões de vacinação. No entanto, sua colaboração anterior não se repetiu desta vez, já que ele escolheu permanecer em silêncio. O depoimento de oito pessoas ao mesmo tempo foi agendado pela PF para evitar a coordenação de versões entre os suspeitos.

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Outro alvo da investigação, o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens, também prestou esclarecimentos às autoridades. Conforme registros de interceptações da PF, o tenente-coronel Cid mencionou que seu pai estava na posse de US$ 25 mil em dinheiro vivo que supostamente seriam entregues a Bolsonaro. Além disso, o general tirou fotografias de estátuas que foram presenteadas ao ex-presidente e posteriormente leiloadas nos Estados Unidos. Ambos são acusados de vender no exterior parte das joias que Bolsonaro recebeu de chefes de Estado durante seu mandato. O tenente do Exército Osmar Crivelatti, outro ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também colaborou com as investigações durante seu depoimento à PF.

Desde que as alegações relacionadas às joias vieram à tona em março, e os principais envolvidos têm apresentado versões conflitantes sobre o destino dos itens recebidos por Bolsonaro. O próprio ex-presidente inicialmente afirmou que nunca solicitou nem recebeu qualquer joia.

No entanto, em uma reviravolta, Bolsonaro admitiu no dia de seu retorno ao Brasil que tentou recuperar as joias por meio de um ofício no ano anterior. A assessoria da ex-primeira-dama Michelle chegou a divulgar uma nota inicialmente alegando que ela não tinha conhecimento do conteúdo dos presentes de luxo dados pelo governo saudita. Posteriormente, Michelle reconheceu ter recebido joias masculinas no Palácio da Alvorada.

Em meio a essas declarações contraditórias, o advogado Frederick Wassef, que representa a família Bolsonaro em várias ações, também mudou sua posição. Primeiramente, ele afirmou nunca ter visto as joias, mas depois confessou ter viajado aos Estados Unidos para recomprar um relógio Rolex de diamantes. O inquérito revelou que essa peça foi vendida a uma loja no exterior por Cid.

Ontem, ao chegar à sede da PF em São Paulo, Wassef afirmou que "jamais mudou de versão" e desafiou alguém a mostrar uma declaração sua negando a compra do relógio.

Mauro Cid, após permanecer em silêncio nas primeiras vezes em que foi chamado para depor, mudou sua estratégia de defesa depois que seu pai foi alvo de buscas da PF no início do mês. Contratando um novo advogado, ele passou a colaborar com as investigações.

Tentativa de tirar Moraes da relatoria

Bolsonaro e Michelle, mantidos em salas separadas durante o interrogatório, agora tentam remover o caso das mãos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do casal argumentou que eles só prestarão depoimento quando o caso for transferido da jurisdição do STF para a primeira instância. No entendimento dos advogados, Moraes não é o juiz natural competente do processo.

Essa posição reflete a tese defendida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que argumenta que Bolsonaro não possui mais prerrogativa de foro, uma vez que deixou a Presidência. No entanto, a maioria dos ministros do STF e a 6ª Vara Federal de Guarulhos, responsável pelo caso, continuam acreditando que as investigações devem permanecer no Supremo. O ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, também apresentou uma ata notarial com registros de mensagens trocadas com Mauro Cid sobre as joias sauditas desde janeiro. Ele justificou seu silêncio com base na defesa de seu sigilo profissional como advogado de Bolsonaro no processo e afirmou que as conversas poderão corroborar sua versão.

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