Ex-ministro de Bolsonaro, Ciro Nogueira diz que vai apoiar Flávio Dino no STF

O senador afimou que vota a favor do ministro na Suprema Corte, desde que o indicado cumpra os requisitos básicos

Ciro Nogueira | Pedro França/Agência Senado
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O presidente do PP e figura destacada na oposição do Senado, Ciro Nogueira, mantém uma foto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu gabinete, mas se afasta da ala mais radical do bolsonarismo, optando por evitar confrontos desnecessários. Em entrevista ao GLOBO, Nogueira anunciou que vota a favor do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA), em uma eventual indicação do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) para o Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de sua posição no partido que compõe a base do governo, Nogueira esclareceu que o PP não é oficialmente parte da base, e criticou a escolha do deputado André Fufuca (PP-MA) para um ministério sem sua análise.

Quanto à aproximação do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), com o governo, Nogueira expressou descontentamento, sugerindo que o parlamentar deveria focar mais nos projetos de interesse do país do que em apoiar o governo. Ele destacou a dependência do governo em relação ao apoio de Lira na Câmara, observando que a distribuição de ministérios não resultou em uma base sólida. Sobre uma possível indicação de Flávio Dino ao STF, Nogueira se posiciona consoante ao governo, desde que o indicado cumpra os requisitos.

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Ao discutir a atuação do Congresso e a pressão sobre o Supremo, Nogueira defendeu a importância de cada instituição respeitar suas atribuições constitucionais. Quanto às narrativas de impeachment contra ministros do STF, ele não viu razão para tal ação. Sobre as alegações de um plano de golpe por parte de Bolsonaro, o senador afirmou nunca ter participado ou sabido de tais discussões, desacreditando a delação do ex-tenente-coronel Mauro Cid e sugerindo uma mudança na legislação em relação às delações de pessoas presas.

Acompanhe a íntegra da entrevista

O senhor é presidente de um partido que está na base do governo, mas o senhor diz ser oposição…

Eu já corto aí: não somos base. Para ser base tem que se reunir, as lideranças aprovar e fazer a indicação oficial do partido. E isso não aconteceu.

A escolha do Fufuca aconteceu à sua revelia?

À minha revelia. A escolha do Fufuca foi uma coisa que só o Lula é capaz de fazer, caso único no mundo. Você escolhe o nome para depois procurar qual é o ministério. O correto é você procurar o ministério e ver se aquela pessoa tem aquele perfil. Mas é o Lula que utiliza a coisa pública como se fosse uma moeda de troca.

Fufuca disse numa entrevista que ele pretende atuar como ponte entre o senhor e o governo. Vai ter essa aproximação?

Impossível isso ocorrer. Muita gente apostava nisso e acho que já estão perdendo essa esperança. Eu ficarei quatro anos na oposição, sem conversar com o presidente Lula. Tenho todo respeito e carinho pelo Lula e sei que ele tem por mim. Eu não vou conversar. Posso conversar no dia seguinte que ele sair da Presidência.

Qual foi a última vez que o senhor falou com ele?

Acho que foi no impeachment da Dilma e já naquela época ele não teve sucesso. Eu tenho carinho por ele, respeito. Só que eu acho que foi um erro ele voltar ao poder.

O governo melhorou a articulação política?

O governo hoje está completamente dependente do apoio do Arthur (Lira, presidente da Câmara). Os ministérios não trouxeram nenhum apoio. Distribuiu 38 ministérios, não conseguiu fazer uma base com isso. E o Lula ainda pensa que aquela fórmula que ele utilizou em 2002 vai dar certo e não dá. Hoje, um deputado, ao receber um cargo… Aquilo não tem valor para ele mais do que o eleitorado que ele representa. Em 2002, o eleitor não sabia nem em quem tinha votado para deputado. Hoje, quando um deputado vota, no minuto seguinte, já tem uma pessoa o criticando nas redes sociais. Quando chegar mais próxima a eleição, a situação vai piorar.

Como é essa dependência do governo com o Lira?

Nada que se deixe por vontade própria dos partidos é aprovado na Câmara. Os partidos não querem. Agora, o Lira tem uma força muito grande e uma pessoa que é muito querida, respeitada, tem um espírito de liderança, como nunca aconteceu na Câmara.

Ele está se aproximando do governo. O senhor concorda com essa aproximação?

Olha, eu não gostaria que isso ocorresse, mas o Lira transcende o meu partido. Ele foi eleito praticamente por todos os deputados, tanto de situação como de oposição, e eu tenho de respeitar isso. Mas eu acho que ele deveria deixar esse ímpeto de ajudar tanto o governo. Acho que ele deveria ajudar nos projetos de interesse do país. Ele é muito voluntarioso, correto. Ele gosta do presidente Lula.

Isso tem provocado um racha no partido?

Não, eu nunca estive tão próximo dele. Ele entende o que eu falo. Muita gente tentou fazer intriga entre nós, mas a gente está bem. A minha relação com ele nunca foi tão boa.

Nos bastidores,comenta-se que Lira pode ser ministro do Lula assim que acabar o mandato dele. Caso isso se concretize, ele teria a bênção do senhor?

Desde que não envolva o partido, nem o futuro do partido, não tem problema. Mas no dia em que ele envolver o futuro do partido para apoiar o Lula, aí vai ter minha oposição. E eu acho difícil eu perder essa disputa dentro do partido, porque a maioria não quer ficar com o governo, não tem essa identificação.

Se o presidente Lula indicar Flávio Dino ao Supremo, o senhor votaria a favor?

Eu não discuto nomes, é um direito do presidente escolher nomes. Eu gostaria muito que o Lula não indicasse ninguém. Preferia que o Bolsonaro estivesse indicando. Mas, como ele foi eleito, foi a população que deu esse direito a ele. Então, ele tem todo o direito (de indicar o Dino). Eu votei a favor do (Cristiano) Zanin, porque ele cumpria todos os requisitos, foi muito bem na sabatina. Não tem porque eu não votar a favor de um nome, seja qualquer nome, se ele cumprir o requisito. É um direito do presidente.

Os parlamentares bolsonaristas têm defendido que o Congresso aumente a pressão sobre o Supremo. O senhor concorda com isso?

Eu defendo que cada instituição fique dentro das suas atribuições. Não resta dúvida que o Supremo legislar por aborto… Já está na nossa Constituição. Legislar por questões de drogas… Já está na Constituição. E o marco temporal, que criou um problema. Então, na saída da ministra Rosa (Weber), que é uma mulher admirável, criou-se muita coisa pessoal dela para colocar a votar, e criou esse problema. A forma correta não é pressionar o Supremo, mas nós votarmos essas matérias com a opinião de que quem deve legislar é o Congresso. Às vezes, tem uma situação que eu não concordo. "Ah eles legislam porque vocês não votam". Mas nós não somos obrigado a votar aborto.

Os apoiadores de Bolsonaro também pedem uma ação mais incisiva contra o Supremo, como o impeachment do ministro Alexandre de Moraes…

Não vejo razão para pedir impeachment de um ministro por causa de uma decisão que ele tomou. Isso é atribuição dele.

O ex-ajudante de ordens Mauro Cid afirmou em delação que Bolsonaro discutiu com a cúpula militar um plano de golpe. O que o senhor ouviu nessas reuniões?

Eu nunca participei nem nunca soube dessas discussões. A delação do Cid não tem a menor credibilidade. Delação de pessoa presa… Chegar a uma pessoa e dizer: "Olha, você só vai sair daqui se falar alguma coisa". Meu amigo, ele fala do Saci Pererê à Carochinha, porque é a única forma de ele sair da cadeia. Isso aí não é justo, não, e não tem resultados. Nós já vimos que na Lava-Jato não deu certo. Veja a quantidade de pessoas que foram acusadas em delações e que depois não foi provado nada. Então, deveríamos mudar essa legislação, e o Supremo não deveria aceitar a delação de pessoas presas.

O senhor falava para o presidente se afastar dessas narrativas?

Sempre. Nós perdemos a eleição muito por causa da discussão de urna e vacina. Se a gente tivesse focado no sucesso do governo, nas medidas econômicas, no cuidado da população, nós teríamos ganhado no primeiro turno folgado. Nós erramos.

O senhor escreveu um artigo em que disse que um novo Juscelino Kubitschek “está para chegar”. Quem teria esse perfil?

Várias pessoas poderiam ter esse perfil. Governadores de sucesso, nossa (ex-) ministra Tereza Cristina. Mas o mais parecido é o governador de São Paulo (Tarcísio de Freitas). Em um governo tão ultrapassado, com uma visão tão antiquada como essa, eu acho que uma pessoa com a visão que o Tarcísio está implementando em São Paulo. Ele pode ter esse perfil.

Mas ele não está sofrendo alguns desgastes? Nesta semana teve a greve do Metrô e CPTM em SP.

Será que é desgaste? Será que a população de São Paulo está satisfeita com aquilo que o pessoal lá do Boulos, PSOL, está fazendo? Tem algumas situações que no início parecem desgastes, como aquele caso da operação policial no Guarujá. Ali, 84% da população aprovou. Da forma que ele enfrenta, ele pode sair mais fortalecido de alguns desafios, com imagem mais positiva do que teria se esse evento não tivesse ocorrido.

Mas ele vai seguir no Republicanos?

Ninguém vai ganhar uma eleição de presidente por um partido só. Não vejo por que ele sair do Republicanos. Se o Tarcísio for candidato, ele tem apoio de Bolsonaro, aí, fatalmente, teria o apoio do PL, do Progressistas. Ele pode chegar ao ponto de ter um arco de alianças sem precedente. PSD e Kassab estão lá com ele. Solidariedade também tem se manifestado. Ele racha o MDB, na pior das hipóteses. Se ele tem o Ricardo (Nunes, prefeito de São Paulo), ele vai ter o MDB.

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