Um relatório da Polícia Federal - divulgado pela revista "Veja" nesta quinta-feira (15) - revela a existência de um documento com orientações para a promoção de golpe de Estado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O militar foi detido no dia 03 de maio, em uma operação que apura suspeita de falsificação nos comprovantes de vacina de Bolsonaro, funcionários e familiares. O celular dele também foi apreendido na operação.
O relatório elaborado pela PF afirma que o documento foi criado em 25 de outubro de 2022. Ainda não há indícios de que o texto tenha sido enviado ao ex-presidente, nem sobre a existência de conversas com esse caráter entre os dois.
O documento encontrado no celular de Cid é chamado de "Forças Armadas como poder moderador" e tratava sobre uma série de ações para derrubar as instituições democráticas.
Dentre elas, a indicação de um interventor, o desligamento e início de inquéritos contra ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outras autoridades da Justiça, e o estabelecimento de um prazo para a realização de novas eleições. O documento afirma que as medidas deveriam entrar em vigor após Jair Bolsonaro dar seu consentimento e autorização.
A minuta afirma, sem provas, que ministros do TSE teriam sido os responsáveis por "atos com violação da prerrogativa de outros poderes". Por isso, sem citar nomes, afirma que eles deveriam ser substituídos por outros.
Mensagens trocadas
Ainda de acordo com a revista, também foram encontradas, no celular do coronel, conversas com o militar Jean Lawand Júnior, atual subchefe do Estado Maior do Exército, que instigavam a realização de um golpe para a derrubada do Estado Democrático de Direito.
"Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara", afirmou Lawand Junior em um áudio enviado a Cid, em 1º de dezembro de 2022.
Como resposta, Cid disse: "Mas o PR [Presidente da República] não pode dar uma ordem... se ele não confia no ACE [referência ao Alto Comando do Exército]". Segundo a "Veja".
Em outra mensagem, em 10 de dezembro do ano passado, Lawand retomou a discussão: "Cid pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de Divisão para baixo está", afirmou.
Cid respondeu: "Muita coisa acontecendo...Passo a passo", e recebeu de volta do coronel a resposta: "Excelente".
De acordo com a revista, a última troca de mensagens entre os militares aconteceu no dia 21 de dezembro de 2022. Jean Lawand Junior voltou a levar a pauta para a conversa e expressou seu desapontamento: "Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregamos o país aos pedidos". Cid respondeu: "Infelizmente".
À Veja, o coronel Lawand afirmou que Cid é seu amigo, que conversaram sobre diversos assuntos, mas que não se recorda de nenhum diálogo de teor antidemocrático trocado com o ex-ajudante de Bolsonaro.