Saiba quais projetos do PT Lula precisou sacrificar para se conciliar com militares

Essa mudança na postura de Lula em relação à GLO ocorreu após uma coordenação entre os comandantes militares e o ministro José Múcio, ao longo do ano

Presidente Lula (PT) | Ricardo Stuckert
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Cinco dias antes de assinar um decreto autorizando o emprego das Forças Armadas em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) nos portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou: "Enquanto eu for presidente, não terá GLO".

O anúncio da GLO, em 1º de novembro, foi justificado pelo presidente Lula como uma resposta necessária diante de uma "situação muito grave" envolvendo o crime organizado no Rio de Janeiro. Lula enfatizou que o decreto visava estabelecer uma operação integrada de combate ao crime organizado.

Essa mudança na postura de Lula em relação à GLO ocorreu após uma coordenação entre os comandantes militares e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, ao longo do ano. O objetivo era reconstruir a confiança entre os militares e o presidente após uma transição de governo complexa e disputas após os ataques golpistas aos prédios do governo em 8 de janeiro.

Conciliação entre Lula e militares

Múcio indicou a interlocutores que alguns eventos foram cruciais para melhorar as relações entre Lula e os comandantes militares. Um desses eventos foi a operação da Força Aérea Brasileira (FAB) para evacuar brasileiros durante as fases iniciais do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

O ministro acredita ter revertido com sucesso a desconfiança mútua quando Lula começou, no final do primeiro semestre, a telefonar diretamente para os comandantes militares, em vez de usar Múcio como intermediário nos contatos.

Em busca de manter as relações civil-militares durante o terceiro mandato de Lula, a estratégia do governo concentra-se na perspectiva da conciliação, abdicando de ideias mais à esquerda dentro da coalizão que apoiou a campanha eleitoral do petista. A maioria na PT, por exemplo, tentou capitalizar o momento de crise militar para aprovar medidas no Congresso visando reduzir os poderes militares e alterar o Artigo 142 da Constituição.

Esse movimento, liderado pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), foi botado em segundo plano pelo próprio governo. Em vez disso, o governo articulou a elaboração de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pactuada com os chefes militares, prevendo apenas a proibição de militares permanecerem na ativa se disputarem eleições.

Projeto interministerial

Múcio também trabalhou junto a Lula para evitar a recriação da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos — uma demanda do ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) para investigar crimes cometidos durante a ditadura militar.

Segundo o historiador e sociólogo Lucas Pedretti, especialista em relações civis-militares, Lula adotou em seu terceiro governo a estratégia de evitar o confronto com as Forças Armadas. Para Pedretti, a conciliação promovida por Lula e Múcio pode, como efeito, ter garantido a governabilidade do petista.

"Essa opção política deixa em aberto um problema, que vai se manifestar cedo ou tarde, quando houver uma nova crise política, crise institucional. À medida em que os militares continuam se percebendo como poder moderador da República e continuam dispondo de mecanismos institucionais e legais para isso", afirmou.

Embate entre interesses

O único confronto que o governo teve com as Forças Armadas ocorreu quando Múcio decidiu demitir o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, após a quebra de confiança pelos eventos de 8/1 e a relutância em afastar o ex-ajudante de ordens Mauro Cid de um cargo de chefia em Goiânia.

Após esse embate, Lula e Múcio tomaram partido dos militares em discussões sobre o aumento no orçamento das Forças e nos conflitos entre as Forças e a Polícia Federal (PF), entre outros momentos.

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