A ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge afirmou em entrevista ao UOL que teve dificuldades para acessar documentos relacionados à investigação dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, ocorridos em março de 2018.
Segundo Dodge, um dos principais obstáculos para obter acesso aos documentos da investigação, que estava sob os cuidados da Justiça do Rio de Janeiro, foi a recusa em federalizar o caso, apesar da solicitação feita pela então procuradora-geral.
A jurista enfatizou que em 2019 teve que solicitar à procuradora-chefe regional do Rio que interviesse para garantir o acesso aos autos da investigação, acesso este que já havia sido autorizado pelo Superior Tribunal de Justiça do estado. No entanto, a 28ª Vara Criminal do Rio criava dificuldades para enviar os documentos.
"Eu sei que, no fim, a doutora Márcia Morgado teve que ir dentro dos Correios, retirou os autos de lá e me mandou pelo malote. Chegou no meu gabinete às 22h, a poucos dias de terminar meu mandato", afirmou Raquel.
A autorização foi emitida pelo STJ no dia 29 de agosto de 2019, enquanto o processo referente às investigações das mortes da vereadora e do motorista só chegaram à PGR no dia 11 de setembro, dois dias antes do término do mandato de Dodge.
Em setembro de 2019, Raquel Dodge protocolou o pedido de federalização do caso junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, em maio do ano seguinte, a Terceira Seção do tribunal negou o referido pedido. Ele ressalta que diversos motivos foram cruciais para efetuar a solicitação, entre eles os baixos índices de solução de homicídios no Rio de Janeiro e o fato de a segurança pública do estado estar sob intervenção federal.
"No final, eu pedi o incidente de deslocamento porque havia várias evidências. O Rio sob intervenção federal significava que os índices de desvendamento de homicídios já eram muito baixos. A intervenção era um sinal eloquente de que havia essa incapacidade", pontuou.
"Havia provas no inquérito da Polícia Federal de que os verdadeiros culpados não eram aqueles inicialmente apontados contra os quais a denúncia já estava sendo preparada. Uma série de coisas que foram se somando", complementou.
Dodge ressalta que sempre soube que a entrada da Polícia Federal no caso daria novos rumos às investigações. "Tomara que a gente finalmente saiba qual a motivação, o mandante e os intermediários. É importante para o país e para a democracia. Não é corriqueiro matar um membro do Legislativo", disse.