Investigações sobre uma possível tentativa de golpe de Estado estão cercando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também enfrenta suas próprias investigações. Conforme as operações avançam, crescem as preocupações com possíveis depoimentos e a revelação de segredos mantidos por aqueles próximos ao ex-presidente. Com crises em curso e novas revelações, especialistas observam um declínio consistente no apoio ao movimento de Bolsonaro nos últimos meses, embora as opiniões variem sobre as causas subjacentes.
Uma reconfiguração da direita é antecipada, com figuras emergentes ganhando destaque, mas o espectro de crises futuras ressuscitando líderes mais radicais permanece no horizonte.
Membros-chave do círculo íntimo de Bolsonaro são suspeitos de envolvimento em tramas golpistas, incluindo conversas abertas com apoiadores, rascunhos de planos destinados a minar os resultados eleitorais e esforços para intervir no processo eleitoral. O caso mais proeminente é o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que será o alvo principal da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 8 de janeiro, com seu depoimento agendado para amanhã. Na semana passada, o comitê aprovou a liberação dos registros telefônicos de Torres e do ex-auxiliar de Bolsonaro, Mauro Cid.
O tenente-coronel também fazia parte do círculo próximo ao ex-presidente e está sob investigação em vários casos. Entre eles, o oficial militar é suspeito de fraude de cartões de vacinação e envolvimento na tentativa de golpe. Rascunhos intervencionistas também foram descobertos no telefone de Cid, juntamente com conversas com apoiadores de Bolsonaro e militares discutindo abertamente a possibilidade de um golpe militar.
O ex-auxiliar também está sob investigação por transações financeiras suspeitas em suas contas. De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ele movimentou R$ 3,2 milhões entre julho de 2022 e janeiro de 2023, mostrando indícios de lavagem de dinheiro e tentativas de ocultar ativos.
Caso de hacker
Aliados de longa data de Bolsonaro (ou ex-aliados) têm sido alvos de investigações legais desde a mudança no governo. Na semana passada, o caso da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ganhou destaque, envolvendo uma operação de busca e apreensão pela Polícia Federal (PF). A parlamentar está sendo investigada por supostamente contratar o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido como o "hacker da Vaza-Jato", para infiltrar o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir documentos falsos, incluindo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Em seu depoimento, o hacker afirmou que Zambelli o havia contratado para hackear os e-mails de Moraes e as urnas eletrônicas, mas a parlamentar nega as acusações.
A parlamentar deve prestar depoimento à PF nesta segunda-feira (07). No entanto, de acordo com sua defesa, ela ficará em silêncio se não tiver acesso aos registros da investigação. Os investigadores também estão explorando a possibilidade de a parlamentar ter usado recursos públicos para pagar o hacker.
"A impressão que tenho é que querem implicar Bolsonaro. Não há nenhuma evidência; ele não pediu nada. A única coisa que existe é um pagamento de R$ 3.000 em novembro, após tudo isso. Todo o dinheiro veio do meu bolso por meio de uma conta que eu terceirizei. Nada veio das minhas verbas oficiais", explicou, protegendo Bolsonaro.
Zambelli era uma forte aliada do ex-presidente, que rompeu os laços depois de um incidente no qual ela perseguiu um homem negro em São Paulo com uma arma pouco antes do segundo turno das eleições. Nos bastidores, apoiadores do ex-presidente afirmam que Bolsonaro atribui sua derrota nas votações eletrônicas a ela, daí o afastamento. Da mesma forma, Bolsonaro se distanciou do ex-deputado Roberto Jefferson depois que ele atirou e lançou granadas contra agentes da PF que foram a sua casa para cumprir um mandado de prisão. Ele está detido desde então.
Daniel Silveira
Outro parlamentar bolsonarista na mira da Justiça é o ex-deputado Daniel Silveira, logo após perder seu assento na Câmara dos Deputados. Ele foi preso por violar uma série de medidas cautelares emitidas por Moraes, mas também é investigado por suposta participação em um esquema golpista com Bolsonaro e o senador Marcos do Val (Podemos-ES). Todos os aliados de Bolsonaro mencionados acima são suspeitos, de uma forma ou de outra, de atuarem em favor de um esquema de golpe, possivelmente envolvendo o próprio ex-presidente.
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